A grande tragédia para a minha jornada até então vencedora no futebol de botão se deu quando Jurumba e Toledo bateram lá em casa para tornarmos a jogar. Minha casa era uma das cidades-sede do bairro, digamos assim.
Com a regra do toque-toque em voga, ao me enfrentarem, ambos faziam com a que a bola (no caso um botão de camisa o mais minúsculo possível), parasse em cima dos botões adversários (os meus) o que, num jogo normal, ocorria em raros momentos. E que significava falta fora da área e pênalti, quando dentro.
E assim, eles empilharam pênaltis e venceram. E me irritaram amiúde, no que Toledo soltava suas sombrias gargalhadas diabólicas, enquanto Jurumba soltava um riso milhares de decibéis mais alto, gritado mesmo, para horror da minha avó que, da cozinha, ouvia meus impropérios. E, desconfio que não só ela. Todo o bairro nos ouvia.
Mas aquilo era só um prenúncio do fim. Dias depois, a turma se reuniu na casa do Sapão para um torneio e eis que a regra de “um toque” me foi apresentada. E eu a odiei.
Cada partida se tornava um jogo de xadrez. Os gols eram mais raros. Se dependia muito do erro do adversário e, como eu errasse em demasia, fugi daquilo.
Daí que, em casa, me debatia em nervos.
– Como faço pra me adaptar, inferno?
E fiquei treinando solo em casa. E, sabendo que ia apanhar no início, porque outro jeito não havia, comecei a traçar a mudança no nome do meu time: do pomposo e até então quase imbatível Flamengo para Democrata de Sete Lagoas (MG), cuja torcida berrava e batucava “Dêêêêêmo, Dêêêêêêêêêêmo”.
Por que e como escolhi os mineiros? O próximo post dirá.