A Resiliência e o FutMesa


Recentemente, li um artigo sobre o comportamento humano, mais especificamente sobre a adaptação das pessoas ao ritmo de vida contemporâneo. O texto salientava a capacidade de resiliência como uma das principais virtudes do individuo postulante ao sucesso em nossos tempos.

A resiliência é um termo oriundo da física, que significa a “capacidade que os corpos têm, de voltar à sua forma e estado originais, depois de serem submetidos a um grande esforço ou pressão externa”, obviamente, foi inevitável a transferência do tema para o universo do futmesa.

Conforme pregava Nietzsche: “aquilo que não me destrói, me fortalece”, praticamente um lema para os resilientes, o artigo destaca diversos elementos que desenvolvidos, podem ajudar no exercício da resiliência ao longo da vida, bem como, características paralelas que devem ser trabalhadas e que, ainda não sendo um mapa da mina para uma vida de realizações, podem contribuir de forma eficaz para um molde mais adaptado de nossa personalidade, com o intuito de tornar o nosso caminho de vida, senão mais fácil, pelo menos, mais agradável.

Lembro que, num exercício “psicológico” de treinamento para o esporte, reli o artigo na integra, de forma a realmente, visualizar todas as suas nuances direcionando-os à prática do futebol de mesa, desta forma, convido os leitores à esta análise e posteriormente, à leitura do texto original, que de certo, pode contribuir para o crescimento individual de cada um, nos diversos setores de nossas vidas.

Inicialmente, verifiquemos que a resiliência se caracteriza “por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida”, no nosso caso, de nossa carreira de atleta, de um campeonato específico ou, até mesmo, de um partida isolada. Partamos do principio de que todos os jogadores, independente do nível técnico ou de qualquer outro fator delimitador quantitativo ou qualitativo, tenha passado por situações difíceis, até traumáticas e muitas vezes frustantes, sem dúvida, isto é fato, e obviamente a superação dos obstáculos da competição é fundamental para o sucesso, mas a resiliência vai além do “superar adversidades”, ela se estabelece justamente no aprendizado do “sofrimento”, tudo que se ganha ao vivenciar as situações de tensão, a sabedoria e a criatividade adquiridas em conseqüências das experiências vividas, e sua posterior aplicação em novas situações tornando-as, a cada dia, menos traumáticas.

Manter-se equilibrado mesmo sob situações de stress ou, ao menos, recuperar-se rapidamente ao final do fato traumático, sendo que, a cada experiência, o “equilibrado” signifique, mais “forte”.

Dentro deste ambiente, destacamos os elementos que podem apoiar a construção de uma postura resiliente:

Aceitação – Não negar o problema, ignorar a situação negativa pode, e deve, aumentar o tamanho do problema e na maioria das vezes, a resistência para a mudança. Resolver na marra, não funciona, é necessário estar atento às condições de jogo e a qualquer situação que possa interferir no andamento normal, principalmente, aspectos pessoais, como chutes na trave…hehe…e obviamente, as limitações de cada um.

Controle – “A vida é inexoravelmente mutável e transitória”, reações de controle e apego são ineficazes, respeitar o curso natural dos acontecimentos não significa necessariamente resignação, mas sim, poupar esforços e não nadar contra a corrente dos fatos. Ou seja, nem tudo nós podemos controlar, utilize seu “poder” para manter o controle sobre aquilo que lhe é permitido, pelas circunstâncias do momento. Potencialize sua eficiência naquilo em que você é o principal agente (sua posse de bola) e com isso, permita que o “incontrolável” interfira menos na sua busca pelo resultado. Por outro lado, “o criticismo exagerado e a expectativa utópica em relação aos resultados, podem trazer desilusões”, “reconhecer as deficiências é um ato de coragem”. Costumo dizer que, ao olhar a minha tabela de jogos, estabeleço o “meu campeonato”, jogos que devo vencer, jogos em que tudo pode acontecer, e jogos em que o que vier é lucro (os jogos contra o Robertinho se enquadram neste último grupo). Desta forma, defino antes do início, uma meta, um mínimo e um máximo aceitável para o meu desempenho nas competições, obviamente, todos os jogos valem a mesma coisa, em tese, mas os jogos tem pesos subjetivos diferentes, vencer o favorito, apesar de lhe dar os mesmos 3 pontos, pode lhe trazer 3 pontos a mais que todos os outros adversários, inicialmente. Esta é uma forma de controle? De “pré-conceituar” os adversários segundo seu padrão de análise de desempenho? Sim, com certeza, desta forma, é preciso aprender a utilizar tais métodos como referência, e não torná-los uma busca obstinada que pode, muitas vezes, tanto para mais, quanto para menos, contaminar e influenciar negativamente a atuação ao longo da disputa. Ex. ter vencido o favorito, não torna o jogo em tese, mais fácil do dia, mais fácil, assim como perder para o adversário considerado mais fraco, não tornará o jogo contra o favorito mais difícil, quando se adota uma postura resiliente, aprenda a usar a motivação e a frustração a seu favor.

Aprendizado – em uma situação negativa, adotar a perspectiva do entendimento e do aprendizado, interessante quando o artigo coloca que existem duas formas de sofrer: com inteligência e com burrice…hehehe…na primeira, o sofrimento, ou no nosso caso, a derrota ou o fracasso, trazem inspiração e geram motivação, no segundo, nos colocamos no status de vítima, buscando pelos culpados pelo nosso desempenho e nos perdemos nesta “caça ás bruxas” que só nos tira do foco principal: a nossa conduta. Aqui cabe o velho jargão futebolístico da “derrota didática”, na verdade, toda derrota deve ser didática, mesmo aquelas que consideramos injustas. Carregamos uma derrota na 1ª rodada várias rodadas seguintes e esta autofagia acaba sendo, via de regra, o principal fator para fracassos sucessivos. Aqui, eu dou minha contribuição especial, um dos sistemas de TQC (Total Quality Control – Controle de Qualidade Total) que tive a oportunidade de implantar profissionalmente chama-se Ciclo PDCA, existem outros, mas este me chamou muita atenção e optei por adaptá-lo, particularmente em muitas esferas da minha vida, o Ciclo PDCA (P = Plan, D = Do, C = Check, A = Action), caracteriza-se por quatro fases sucessivas onde o P sugere o planejamento, o D, a execução, o C a verificação e o A, a ação corretiva, que nesta sequência é novamente seguida pelo planejamento e assim sucessivamente. Ao longo de minha percebi que este sistema funciona para tudo, na prática, você planeja algo, executa conforme planejado, avalia os resultados e estabelece uma forma diferente de fazer aquilo que foi julgado ineficaz.

Tecnologia – este elemento é focado no texto de forma mais direta, a utilização das tecnologias disponíveis para nos trazerem conforto, e que, não raras vezes, acabam tornando-se “senhores” de nossas vidas, nos tornamos reféns daquilo que existe apenas para facilitar as nossas atividades, neste caso sugere-se que em hipótese alguma, nos apropriemos deste advento em detrimento do contato social, para que não percamos o real sentido da vida. Seria complicado atrelar este elemento ao futmesa mas, me veio a mente uma abordagem que, apesar de passar por uma comparação grosseira, mantém a essência em pensamento, de forma alguma podemos nos esquecer de que o esporte nos serve para exercitar e massagear, corpo e mente, o futmesa é, antes de mais nada, uma terapia mental, não deixe que o aspecto competitivo da prática esportiva o torne ausente do seu principal objetivo que é a convivência entre os participantes.

Preocupação – por John Lennon: “a vida é tudo que acontece enquanto ficamos preocupados fazendo planos”. Preocupar-se demais com a 5ª ou 6ª rodada, contra adversários dificílimos, antes de jogar a 1º gera ansiedade, que se baseia no medo e na falta de confiança, primeiros sintomas que caracterizam um “botonista derrotado”.

Finalmente o artigo destaca que “concentração, foco e tolerância podem moldar um jeito diferente de olhar para os problemas, felicidade é também, um modo de interpretar a realidade”.

Qualquer semelhança é mera coincidência, o futmesa explica a vida.

Gol neles…

Fonte: http://sportdebotao.blogspot.com/2010/03/resiliencia-e-o-futmesa.html