Futebol de Mesa no Meninos Futebol Clube


Futebol de Botão atrai fãs – Modalidade é reconhecida como esporte desde 1998 no Brasil – É sábado de manhã e os técnicos dirigem-se, concentrados, ao campo. Quase sem torcida para acompanhar a partida, eles arrumam, com todo cuidado, os respectivos jogadores nas posições mais convenientes. Homens a postos, bola no centro, cronômetro rolando. O jogo começou.

Mas preste atenção. Não discuta com o juiz (se ele estiver presente), não comemore gols e não seja fominha: três toques seguidos na bola, com o mesmo jogador, é falta. Esse é o futebol de mesa, ou se você preferir, de botão.

As origens do botão se perdem no começo do século passado, numa época em que a prática do futebol custava caro, já que os materiais necessários eram importados. Os primeiros “jogadores” eram botões normais de roupa, e o campo não passava de uma calçada riscada com giz. Esses materiais, obviamente, dificultavam o andamento da partida, já que os botões deslizavam com dificuldade.

Com o tempo, os componentes do jogo foram evoluindo. Hoje em dia, os botões são feitos de acrílico, a bolinha é de feltro e o campo é de madeira, tudo perfeitamente polido com cera para ajudar o andamento da partida. É, praticamente, um trabalho manual, como explicou Gustavo Martorelli, 25, praticante do futebol de mesa. “Cada botão é feito sob medida segundo as preferências de cada jogador. A bola também. Ela é um pedaço de feltro lixado até ficar redondo.”

Todo esse cuidado dá à modalidade caráter de hobby. Os praticantes, mais do que jogadores, são colecionadores. Os botonistas têm permissão de decorar seus botões como quiserem, e não há limite para a criatividade. Com fotos ou adesivos, os botões ganham vida e passam a ter status de arte.

Na partida que a reportagem acompanhou, Martorelli jogava com o Wolfsburg, da Alemanha, enquanto seu adversário, Maurício Faccio, 28, jogava com um combinado de craques, entre eles o argentino Juan Roman Riquelme e o francês Thierry Henry.

“Eu mesmo decorei meu time. Colei os decalques com os nomes e os números dos jogadores nos botões e, para que não saia, passo esmalte transparente por cima.” A atenção com os botões é tamanha que cada time é guardado separadamente em seu respectivo estojo costurado à mão.

Mesmo com as inegáveis características de hobby, o futebol de mesa é um esporte de competição. Durante as partidas de botão, alguns jogadores mais experientes usam recursos dos gramados reais. “Botão parece esporte de velho, pois todo mundo joga quietinho, mas não é não. Tem muita catimba nas partidas”, contou Faccio.

A estratégia no botão envolve a tentativa de irritar o adversário, atrapalhando sua concentração, pigarreando, fazendo sons ou movimentos do tipo coçar o braço. Outra malandragem é olhar no relógio durante o jogo, algo terminantemente proibido, pois não saber o tempo da partida faz parte das regras oficiais.

“Não pode nem entrar na sala com relógio ou celular, mas os caras dão um jeito. Tem gente que arranja caneta com relógio, tem gente de fora que faz sinal. Tem de tudo”, afirmou Faccio.

Para inibir esse tipo de prática, um juiz deveria ser designado para qualquer partida de futebol de mesa, segundo o manual de regras. Deveria, mas não é, pois nem sempre há alguém disponível para apitar os jogos.

Reconhecida oficialmente como esporte no Brasil desde 1988, a modalidade conta com federações estaduais e uma confederação brasileira, a CBFM. Esses órgãos têm a responsabilidade de regulamentar a prática e organizar campeonatos entre os clubes filiados. O maior campeão brasileiro é o Palmeiras, que venceu as três edições do Campeonato Brasileiro por equipes.

Amadorismo – Apesar de organizado, o esporte sofre com a falta de investimento. “É um hobby bem caro. A gente paga quase tudo do nosso bolso e não tem nenhum retorno financeiro”, disse Martorelli.

Os atletas praticam o botonismo em clubes espalhados pelo Brasil, mas só aqueles com grande estrutura, como Palmeiras e Corinthians, por exemplo, contam com alguma ajuda financeira. No Meninos Futebol Clube, tradicional agremiação do Rudge Ramos, em São Bernardo, onde joga a dupla Maurício Faccio e Gustavo Martorelli, a estrutura da sala de futebol de mesa e as viagens são pagas com rateio entre os próprios atletas.

A organização do esporte vem crescendo, mas a quantidade de adeptos não. Marcelo Barbosa, 19, é um dos poucos da nova geração que jogaram botão a sério. “Eu joguei campeonatos, mas parei. Antes, tinha muita gente para jogar os sub-16. Hoje, quase não tem gente para os sub-20.”

Faccio, professor de educação física, aponta o videogame como causa principal para a falta de renovação entre os praticantes. “Criança gosta de ganhar. No videogame ela consegue isso. O botão exige muita coordenação e treino. Até a criança começar a vencer, ela vai perder muito, o que acaba afastando-a.”

GUILHERME MIRANDA – do Rudge Ramos Jornal