Quem poderia imaginar que o futebol de botão, tal qual seu correspondente de carne e osso, consegue movimentar boas cifras nas transações entre os “jogadores”?
No reino do galalite existem barões, oportunistas, e até mesmo pactos que perduram após a morte.
O MECENAS DOS BOTÕES
No bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, se localiza a loja Botão e Palheta, recanto especializado em futebol de mesa.
Em meio às paredes camufladas pelos pequenos “jogadores” feitos de plástico, trabalha ou, melhor dizendo, vive Hamilton Tavares, que, no auge dos seus 50 anos, pode ser confundido com um balconista comum.
A verdade é que Tavares, apesar da simplicidade, ocupa o topo da pirâmide do mercado de futebol de botão, um verdadeiro mecenas dos campos feitos de compensado.
Com mais de 30 mil peças catalogadas em seus domínios, o lojista não apenas é o maior colecionador de botões do mundo, como também se tornou o “barão”, movimentando cifras com alguns zeros antes da vírgula.
Não é à toa que ele afirma com a certeza de um cartola que, “no momento em que eu falo com vocês, tem alguém comprando um botão meu em algum lugar do país”.
Tavares trabalhou por muitos anos no sistema de telefonia do RJ, antes da privatização.
Era o responsável por fazer a corretagem das linhas disponíveis.
Nessa época, pelos idos dos anos 80, usava parte do salário para sustentar o hobby de colecionar botões.
Foi também nessa época que a amizade com o português e marceneiro Alberto Pereira Ribeiro mudaria sua vida.
DOIS CARROS POR BOTÕES
Ribeiro fazia móveis e figas de madeira em uma marcenaria.
Após ouvir conselhos de pessoas ligadas ao esporte de mesa, começou a produzir botões durante o tempo livre.
Acabou deixando os amuletos de lado e montou a sua própria fábrica de minijogadores, a Bertisa.
Porém, o fato de ter colaborado para a boa sorte de muitos incautos com suas figas não o eximiu das tradicionais características do DNA lusitano.
De uma hora para outra, a qualidade do material fornecido para a fabricação dos botões caiu drasticamente.
Os botonistas fissurados perceberam e começaram a investir seu dinheiro em outras fontes.
Para agravar a situação, na mesma época, desembarcava no Brasil o Atari, que, nas palavras do Hamilton Tavares, “matou os botões”.
A época não era propícia para se investir no ramo.
Mesmo assim, o marceneiro decidiu arriscar e vendeu seus dois carros para usar o dinheiro na compra de material de boa qualidade e dar seguimento ao negócio.
E como um típico português, depois que fez a cagada, entrou em desespero por não saber como iria vender a produção e obter lucro.
Foi aí que Tavares entrou no jogo, com a promessa de comercializar tudo, pagando pelos botões em 16 vezes.
“Fiz essa loucura porque gostava muito de botão.
Se eu não conseguisse vender, azar!
Ficava com todos!”, disse.
Só que ele conseguiu.
Através de um minucioso esquema de distribuição e venda nas melhores casas do ramo, os botões da Bertisa se tornaram muito conhecidos, até os tempos atuais.
DE HOBBY A PROFISSÃO
Agora Hamilton Tavares, além de vender, também produz botões, utilizando como matéria-prima folhas de galalite e acrílico, e fichas de pôquer usadas em cassinos.
Além da sua loja, onde também comercializa brinquedos antigos, revende seu acervo de 30 mil botões para mais de 20 estabelecimentos e expõe em feiras.
Os botões novos são vendidos a R$9 cada, fazendo com que um “time” de 11 jogadores saia por cerca de R$100 – tecnicamente, com o salário médio de um estagiário, você consegue comprar uns três times bem completos, com reserva e tudo.
Porém, diferente da realidade humana, em que os jogadores de futebol mal aprendem a falar e já viram mercadoria, no universo dos botonistas, quanto mais raro e mais velho for um botão, mais valorizado ele fica.
Pense que um pedaço de acrílico arredondado, com pouco mais de três centímetros de diâmetro, pode custar em média R$150 ou mais.
Tudo começou quando os jogadores de futebol de mesa procuravam sua loja e, em vez de se interessarem pelos novos craques, eram os antigos que lhes atraíam.
Dividido entre o lado comerciante e o lado colecionador, Hamilton passou a colocar preços altos nos botões que não queria vender.
A partir daí é que foi se estabelecendo a média de valores no comércio de pequenos jogadores pelo Brasil afora, tendo como medidas reguladoras quesitos como raridade, procedência, material e apego sentimental do dono.
O problema (ou solução, dependendo do ponto de vista) é que tem gente capaz de torrar a grana que tem para saciar o hobby.
Até mesmo gastar R$6 mil EM UM ÚNICO BOTÃO.
“Foi a peça mais cara que já vendi.
Os botões mais caros a gente acaba vendendo para o mesmo grupo de pessoas, que já são conhecidas por serem do meio.
Isso facilita o comércio.
”Quando os preços por uma única peça são extremamente altos, há a possibilidade de parcelar o valor, numa espécie de “acordo entre cavalheiros” – ou, no caso, botonistas – em que a palavra de um colecionador vale mais do que um papel escrito.
“Eu parcelei o botão de R$6 mil para o comprador, só porque eu conhecia ele.
Tem que ser amigo pra fazer isso”, afirma.
Desde 1993 no ramo, ele conta que já viu gente tão aficcionada que era capaz de trocar os próprios pertences por UM botão – celular, geladeira e até moto.
A roda das transações também ocorre pela internet.
No profile da loja do Hamilton no Orkut, basta a publicação da foto de um botão novo para atiçar os interessados, que já perguntam quanto custa, ou tecem elogios dos mais variados para aquela “joia rara”.
Outros profiles também se dedicam a compra e venda dos jogadores, a maioria numa faixa de preço entre R$100 e R$500.
No site do Mercado Livre também é possível encontrar botões à venda, dos preços módicos aos mais caros, das réplicas aos botões originais.
HEREDITARIEDADE
Tavares disse que não sofre com a concorrência nesta área, já que boa parte dos botões em circulação são dele, até mesmo pelo tamanho do acervo que possui.
Fora que conta com a vantagem de que as peças vendidas acabam retornando para ele uma hora.
“Teve uma vez que eu vendi um botão por R$400. Quatro anos depois, acabei comprando o mesmo botão por R$40, e vendi de novo para outra pessoa, mas por R$800”, explica.
Segundo ele, a comunidade de colecionadores costuma ser bem unida.
Só ele conhece pessoalmente cerca de 200 apaixonados pelas peças de galalite no Brasil – colecionadores “fodões”, como define aqueles que possuem um acervo com mais de mil botões.
Relata ainda a existência de “guetos” de amigos, que juntaram suas peças para formar uma única coleção.
Para ter noção de até que ponto chega a paixão dessas figuras, existe um “acordo de cavalheiros” entre os colecionadores mais próximos, em caso de morte.
Se por acaso alguém resolver jogar uma partida de botão com a Dona Morte e perder, a coleção do finado é distribuída entre quem está vivo.
Isso evita que os botões fiquem esquecidos dentro de uma gaveta qualquer para todo o sempre.
Felizmente, até o momento, não há relato de homicídios.
Por enquanto.
A bainha (caimento lateral) é determinante para saber se ele é atacante, consegue encobrir o goleiro com facilidade ou se é um defensor.
Quanto mais aberta a bainha, maior é o ângulo de inclinação para a palhetada, e geralmente ele joga no ataque.
Os de bainha fechada são melhores passadores e a inclinação é bem menor.
Em alguns beques, são zagueiros que chegam a ter quase um ângulo de 90 graus de bainha.
REGRAS?
Caso o leitor tenha nascido com um controle de PlayStation na mão, e nunca teve a oportunidade de se divertir com um jogo de verdade fora do ambiente virtual, saiba que o futebol de mesa possui muitas peculiaridades na forma de jogar.
Para ter ideia, existem várias maneiras de se jogar, e cada estado tem a sua – a regra paulista, a regra carioca e a regra baiana são as mais conhecidas.