O time dos escritores


Professor João Batista Chamadoira mantém paixão por futebol de botão e cria equipe formada por craques das letras. O Brasil perdeu, está fora da Copa do Mundo da África do Sul, mas a paixão pela bola continua. No caso do professor João Batista Chamadoira, 68, da Unesp-Bauru, são duas paixões unidas: o futebol e a literatura.

Ele é jogador de futebol de botão e, desde a infância, passou pelas diversas fases da brincadeira que simula uma partida de verdade.

Teve jogadores com botões da capa do pai, comprados em loja e, por meio de uma lixa, transformados em Didi, Garrincha, Luizinho, etc., até chegar aos times de hoje, oficiais, de acrílico, com três centímetros e meio de diâmetro e um furo no meio, para não pular.

Um dos times do professor é formado por craques das letras brasileira e portuguesa.

O goleiro é Machado de Assis e os zagueiros são Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado, grandes nomes da literatura nacional.

Chamadoira tem também uma mesa oficial, riscada e pintada “como a grama dos melhores estádios europeus”. Com direito a alambrado, traves e redes.

“Antigamente, dois raios de roda de bicicleta, uma morsa e um alicate me ajudavam a compor uma trave, que depois recebia o filó, muitas vezes dos véus de minha avó”, recorda.

Também conhecida como futebol de mesa, a modalidade foi criada no início do século passado no Brasil.

Segundo o site “Esporte Fino” www. esportefino.net , mantido por jornalistas especializados, na época o futebol ainda era elitizado e usar botões de roupas para simular jogos era uma forma criativa e barata das classes populares praticarem o esporte.

“Na minha infância, tanto eu como meus amigos gostávamos bastante de jogar futebol de botão”, lembra o ex-goleiro Francisco Cefaly Neto, o Chiquinho, que defendeu o Noroeste e impediu um pênalti de Pelé, em plena Vila Belmiro.

Ele conta que os meninos organizam campeonatos, com botões de celulóide, o material que cobre os ponteiros dos relógios. Fotos recortadas de álbuns de figurinhas e os nomes dos jogadores eram colados nos botões.

Chiquinho não guardou nenhum dos times que possuía e lamenta isso.

Hoje, ele poderia ser um companheiro para o professor Chamadoira, que joga pouco em sua mesa por causa da falta de companhia.

“Não conheço ninguém aqui em Bauru que se disponha a jogar”, diz Chamadoira. “Às vezes jogo com meu filho, quando ele vem aqui, pois mora em São Paulo. Acho que vou começar a jogar sozinho ou convencer minha mulher”.

Resgate

Em tempos de Copa do Mundo, o futebol de mesa é resgatado em locais que criaram espaços especiais para crianças e adultos se divertirem com o futebol.

É o caso do Sesc-Bauru [avenida Aureliano Cardia, 6-71], que instalou uma mesa no espaço “Com o Pé ou com a Mão… Futebol é Diversão”. No Planeta Copa, do Alameda Quality Center [Rodovia Marechal Rondon, km 335], uma das atrações é o futebol de botão, com direito a disputas entre os frequentadores.

Brincadeira hoje é levada a sério

O futebol de mesa hoje é um esporte de alto rendimento, reconhecido pelo Ministério dos Esportes. A Confederação Brasileira de Futebol de Mesa é a entidade nacional que dirige a modalidade e reúne as federações, ligas e clubes.

Times de futebol como o Palmeiras, o Corinthians e o Santos têm equipes de futebol de mesa e disputam acirrados campeonatos de botonismo.

“Cheguei a assitir a jogos no Departamento de Botonismo da Sociedade Esportiva Palmeiras, lá no Parque Antártica, próximo de onde morava em São Paulo”, conta o professor João Batista Chamadoira.

Na internet, sites e blogs de fãs divulgam disputas e o avanço do esporte que começou como brincadeira.

Fonte: Agencia Bom Dia