Botão, pebolim, dedobol e todas as brincadeiras do esporte
Mal começa a andar, o brinquedo preferido da criança já é a bola. O chute, quase intuitivo, e o controle nos pés, um desafio e tanto, são irresistíveis. De posse desse lúdico objeto esférico, o guri aprende rápido a jogar futebol, brincadeira simples, que exige pouco: uma bola, uma trave, uns amigos. E o esporte entra para o universo infantil, juntamente com um mundo de brinquedos, brincadeiras e jogos. Entre os brinquedos, a bola reina soberana.
Dos jogos, os mais populares são o “clássico” futebol de botão, o pebolim, e mais recentemente o “dedobol”, que virou “febre” entre os fãs do esporte. Tem também os jogos eletrônicos, mas estes ficam para uma outra reportagem.
Pelo menos até os anos 1970, e antes que os carros dominassem o espaço público, a rua era o lugar da bola. O artista gráfico Paulo Vinícius, que atuava como volante no time da escola, lembra que jogava sempre na rua do bairro da Vila Mariana, zona sul da capital paulista. Uma rua tranquila, a uns 50 metros do hoje agitado metrô Santa Cruz,.
“Se vinham poucos amigos, jogávamos contra o portão das casas, que virava gol. Já quando estava a turma toda, íamos para a rua, onde marcávamos o gol com tijolos”, conta Vinícius. Mas se o jogo era futebol de botão, os meninos se reuniam na casa de um deles, para longas tardes de emoção. Uma diferença do jogo de então, é que hoje o botão costuma trazer estampado o escudo do clube, e na época vinha com o retrato do jogador. Ele explica: “Nos dias atuais, não tem jogador que fique muito tempo numa posição, num clube. Antes os jogadores faziam carreira nos times. Hoje as alterações na escalação são tão rápidas, que não dá mais para ser assim”. Na lembrança, ele guarda a fisionomia impressa nos botões de craques como Jurandir e Roberto Dias, da zaga do São Paulo, e de Dudu e Ademir, do Palmeiras. Alguns macetes, os próprios garoto desenvolviam (aliás, até hoje). No seu caso, uma caixinha de fósforo era usada como goleiro. Para dar estabilidade à peça, ele derretia chumbo na frigideira, despejava dentro e esperava endurecer. “Ficava ótimo! Mas não me pergunte onde eu arrumava o chumbo…”, graceja.
Petelecos na tampinha
Outro jogo muito popular, lembra Vinícius, exigia apenas três tampinhas de refrigerante, dois gols e uma mesa de ping-pong como campo: “Era só ir dando uns petelecos na tampinha, e fazê-la atravessar, sem tocar, bem no meio das duas outras, até fazer o gol”, explica. Havia também o pebolim – também conhecido como totó, fla-flu e outros nomes, dependendo da região. Todo mundo gostava, diz ele, mas naquela época tinha um problema: “Como não era o tipo de coisa que todos tivessem, porque a mesa era cara, só os amigos do menino rico da rua é que tinha lugar garantido para jogar”.
Botões na caixa de sapato
Muda a geração, inventam-se novos brinquedos, mas o futebol de botão permaneceu, embora hoje há quem esteja preocupado com manter viva a tradição. Diego Salgado tem 27 anos, uma geração à frente de Vinícius. O irmão mais velho, fã de futebol, foi quem levou o pequeno a se apaixonar pelo esporte. Os dias de sua infância, passada no bairro do Butantã, em São Paulo, eram tomadas pelos campeonatos de botão: “Guardávamos os botões em uma caixa de sapatos, e eram o bastante para montarmos até 150 jogos diferentes”, declara. O jogo se dava sobre o “Estrelão” (famosa mesa de jogo da Estrela), que ganhou de Natal. “Toda hora eu ia ao bazar perto de casa, para comprar mais botões e incrementar nossa coleção”.
Também para sofisticar o jogo, Diego adaptou um abajur, que simulava a iluminação artificial do campo. Peças de dominó serviam para montar a arquibancada, onde botões eram dispostos como se fossem torcedores”, diverte-se lembrando. Diego tinha (e tem) outras preciosidades, como os cadernos sobre futebol, que duraram dos 8 aos 13 anos, e uniformes do Corínthians, de 89 até hoje. Também jogou (e ainda gosta de jogar) o dedobol – também chamado pinobol ou pregobol -, joguinho para tabuleiro de madeira, com pinos no lugar dos jogadores.
Desde a infância do Vinícius, uma década se passou até a de Diego. Mas os anos 1980 em São Paulo já se tornariam perigosos para a brincadeira de rua das crianças. A mãe de Diego, por exemplo, proibia seus filhos de jogarem na rua, mesmo o lugar sendo tranquilo, ele recorda. “Mas dávamos um jeito, saíamos de fininho no sábado de manhã, ou jogávamos na própria escola, que naquele tempo abria nos fins de semana…”.
Fonte: http://www.copa2014.org.br/noticias/1509/OS+MIL+BRINQUEDOS+DO+FUTEBOL.html